Reorganizando a reorganização de escolas
Artigo de Rodrigo Travitzki publicado no Blog do Paulo Saldaña (Estadão) em 08/12/2015. Leia o trecho referente à análise dos dados do Saeb com objetivo de testar o argumento do governo estadual de que as escolas de ciclo único apresentam melhores resultados.
Analisando os resultados nos anos finais do Ensino Fundamental, os alunos de escola com ciclo único obtiveram apenas 4 pontos acima dos restantes, o que significa 2% da média. Novamente, nossos resultados confirmam os do governo, porém em magnitude muito menor.
Sendo assim, chegamos à quarta questão, dentre as inicialmente propostas. Como seria se introduzíssemos outra variável no sistema? Felizmente, o INEP começou a divulgar um indicador de nível socioeconômico das escolas junto com os dados do Saeb, o que facilita bastante as coisas. Sabe-se que esta variável está altamente associada ao desempenho em testes, sendo assim uma ótima candidata para introduzir no modelo.
Quando passei a levar em conta o nível socioeconômico das escolas, a relação entre ciclos e desempenho se inverte! Sim, o que parecia bom se torna ruim e vice versa. Os alunos de escola com único ciclo passam a ter, em média, 8 pontos abaixo dos outros – o que corresponde a 4% da média. Vale notar que as escolas com ciclo único apresentam, em média, um nível socioeconômico mais alto do que as outras. O que suscita uma questão: em que medida o fechamento das escolas com Ensino Médio e Fundamental acabará atingindo negativamente a população mais vulnerável?
Pois bem, o que tudo isso significa, afinal? Antes de mais nada, que educação é uma coisa complicada e dificilmente será bem explicada com umas poucas variáveis. É preciso um debate qualificado, informação pública de fácil acesso, negociação de objetivos e meios. O exemplo anterior é bom para mostrar que nem tudo é o que parece na educação. Bastou a introdução de uma variável para que a conclusão virasse ao contrário. A mistura de alunos, que parecia um pouquinho ruim, depois ficou parecendo um pouquinho boa, com a introdução do nível socioeconômico da escola. Sempre apenas “parecendo” pois – nunca é demais lembrar – correlação não significa causa. Nenhum dos dois modelos corresponde exatamente ao fenômeno, mas juntos eles são mais informativos do que apenas um deles.
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Colóquio Reorganização em Debate: as políticas educacionais e os movimentos de resistência
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